• São Miguel do Iguaçu, 08/07/2025
  • A +
  • A -
Publicidade

'Terras raras': jazida sobre vulcão inativo no Sul de MG pode colocar o Brasil na liderança da transição energética


'Terras raras': jazida sobre vulcão inativo no Sul de MG pode colocar o Brasil na liderança da transição energética

Área de 750 km² abrange
quatro municípios. Potencial de exploração torna a Caldeira de Poços de Caldas
competitiva em volume e custos com a mineração da China, líder no segmento
desde 1990.

A possibilidade
de exploração dos minérios conhecidos como "terras raras" na área de
um vulcão extinto há 120 milhões de anos no Sul de Minas Gerais tem potencial
para colocar o
 Brasil na posição de protagonista da
transição energética. 
Este tipo de material ganhou importância estratégica em todo o mundo e
virou, inclusive, alvo
de disputas comerciais entre China e Estados Unidos
.

🔎"Terras raras" são um conjunto de 17
elementos químicos essenciais na fabricação de compostos usados em tecnologias
de energia limpa 
(veja infográfico abaixo). Apesar do nome, eles são
abundantes na natureza. O termo “raras” se refere à dificuldade de separá-los
dos minerais onde estão presentes.

O Brasil tem a segunda maior reserva de "terras raras" do
mundo
, com 21
milhões de toneladas, o equivalente a 23% do total global, segundo o Ministério
de Minas e Energia (MME). Projetos de extração desses minérios já estão em
andamento em Goiás e Minas Gerais, mas há jazidas também no Amazonas, Rio de
Janeiro, São Paulo e Roraima.

O unicórnio do vulcão

O depósito de
"terras raras" formado sobre a cratera do vulcão extinto no Sul de
Minas Gerais se destaca pela extensão e alta concentração de minério. Ele
também possui facilidades de extração não encontradas em outros locais do
mundo, sendo considerada por algumas empresas de mineração "um
unicórnio" - termo utilizado para ilustrar a sua raridade e a sua
singularidade.

🌋A origem desse potencial todo é a rocha formada na
época ativa do vulcão, que é alcalina — um tipo mais frágil e mais suscetível
às ações do tempo, que ao longo de milhões de anos, se transformou em argila
rica em íons de "terras raras".

A cratera
de Poços
de Caldas
 é a segunda maior ocorrência de rocha alcalina do
mundo. Fica atrás apenas de uma jazida na Sibéria, mas que não tem as condições
de clima e temperatura necessárias para a formação de argila iônica.

“O grande
diferencial é a rocha alcalina. O mundo inteiro está procurando e ainda não
encontrou nada semelhante ao que nós temos aqui. Hoje nós somos a melhor jazida
do mundo e a maior”, afirmou o geólogo Álvaro Fochi, responsável pela
descoberta do depósito.

A região também
se destaca pela qualidade do minério. Enquanto a média global de "terras
raras" na argila é de 1 mil ppm a 1,5 mil ppm (partes por milhão) por
tonelada de óxidos de "terras raras" totais (TREO), na caldeira de
Poços de Caldas este
índice é 
2,5 mil ppm/t, com um aproveitamento de 70% na sua separação do
minério, contra 40% da média global.

A jazida da
caldeira de Poços foi identificada em 2012 e comprovada por testes realizados
em laboratórios do Rio de Janeiro e do Canadá, mas apenas em 2022 duas empresas
australianas avançaram nos estudos e processo de licenciamento necessários para
a extração dos minérios, que deve ter início entre 2026 e 2027.

As estimativas
acima, de acordo com essas empresas, correspondem apenas aos projetos iniciais
de exploração. Os estudos foram feitos somente em 15% de toda a extensão da
cratera e identificaram 2 bilhões de toneladas de argila com íons de
"terras raras", o que garante 20 anos de mineração. Considerando as
áreas ainda não estudadas, estima-se que essa quantidade pode chegar a 10
bilhões de toneladas.

Essas condições
fazem da caldeira de Poços de Caldas a única jazida capaz de competir em volume
e custos com a mineração realizada na China. Segundo as mineradoras, o preço de
produção deve ser de cerca de US$ 6 por quilo — o mais baixo do mundo.

"A China domina
grande parte da oferta global de 'terras raras', sendo que crises políticas e
comerciais têm impactado diversas empresas ao redor do mundo. Nosso projeto se
destaca pela capacidade de produzir até 7% da demanda global de Carbonato Misto
de 'terras raras' a um valor altamente competitivo", diz o gerente
regional da Viridis, Klaus Petersen.

Preocupação com os impactos ambientais

A mineração é
um processo complexo que envolve diversas etapas. Após a extração, o minério
bruto passa por processos de beneficiamento, como britagem, moagem e separação
química, para concentrar o material de interesse.

Para cada
tonelada de argila que é processada com ácido e sulfato de amônia, só um quilo
é retirado do produto que será aproveitado na indústria, segundo o ambientalista
Daniel Tygel, presidente da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca, de Caldas.
O restante é devolvido para as cavas abertas pela mineração.


necessária a realização de um estudo independente financiado pelas prefeituras
de Poços de Caldas, Andradas,
Caldas e Águas
da Prata
 para poder compreender os impactos envolvidos. Não
há garantia de que essa terra que é processada quimicamente, que vai voltar
para as cavas, não gerará impactos para a saúde, para o solo, o ar e as
águas", afirma Tygel.

A Prefeitura de
Poços de Caldas diz que acompanha a implantação dos estudos de impacto
ambiental realizados pela mineradora.

“Poços tem que
se preparar de forma ordenada, de forma responsável para absorver esse
crescimento, tanto com geração de emprego, capacitação de mão-de-obra, geração
de recursos mesmo através dos impostos, tem uma gama de oportunidades, mas de
forma responsável, tanto socialmente e ambientalmente”, afirmou o secretário
municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Franco Otávio Tobias
Martins.

A Prefeitura de
Caldas confirmou que emitiu a licença de uso e ocupação do solo, que faz parte
do processo de licenciamento estadual.

“Essa certidão
atesta que o empreendimento está em acordo com as leis e regulamentos
municipais. Além disso, a prefeitura está estabelecendo juntamente com a Câmara
de Vereadores um termo de compromisso para resguardar os interesses do
município, da comunidade e, principalmente do meio ambiente”, afirmou a
secretária municipal de Meio Ambiente, Ianka Oliveira.

Nos municípios
de Andradas e Águas da Prata ainda não há projetos para extração de
"terras raras".

Na superfície

As mineradoras
dizem que um dos grandes diferenciais da cratera de Poços de Caldas é que os
minérios que contêm "terras raras" estão na superfície, o que
facilita a sua extração, pois 
não há necessidade de
dinamitar ou abrir grandes cavas, o que diminui os impactos ambientais e torna
o processo até cinco vezes mais barato
.

“Nas minas de
argila iônica, a natureza fez tudo. A natureza destruiu a rocha e a transformou
em argila iônica”, afirma Fiochi.

O processo de
extração e reabilitação ambiental da área ocorre de forma contínua em um
sistema chamado de 
backfill, que ao mesmo tempo que uma nova cava é aberta,
outra aberta antes vai sendo recuperada com o material retirado da anterior e
assim por diante.

"É a
tecnologia mais sustentável de mineração no mundo", explica o professor do
Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Roberto Galery.

Veja as etapas do processo de mineração de terras
taras:

1.         
Remoção do Solo: retira-se uma camada de aproximadamente 30 metros
de profundidade com retroescavadeiras.

2.         
Lixiviação: a argila extraída é lavada com uma solução
diluída de sulfato de amônia (usado em fertilizantes), que libera os íons das
terras raras.

3.         
Separação e precipitação: o líquido com os íons entra
em um circuito fechado, onde os elementos são separados e transformados em
carbonato, o produto final usado pela indústria.

4.         
Lavagem e reutilização da argila: a argila é lavada novamente
para remover impurezas e depois armazenada para ser usada na recuperação das
cavas já exploradas.

5.         
Recuperação ambiental: o terreno é reconstituído
com vegetação semelhante à original, respeitando o ecossistema local.

6.         
Gestão de rejeitos e água: não há acúmulo de rejeitos
nem necessidade de barragens, pois o material escavado é reutilizado para preencher
as cavas. A água usada vem de reservatórios agrícolas e é 80% reutilizada. Os
20% restantes correspondem à umidade natural da argila.

“Você não
detona, não usa muita energia, não usa ácido forte, não usa temperatura. Então
o processo é mais barato, você lava a argila e devolve ela para para a cava, ou
seja, depois de um ano que você lavou, você não tem nem cicatriz e você consome
pouca energia. E o Brasil tem as algumas vantagens, a energia é 100%
renovável", afirma o diretor executivo da Meteoric, Marcelo Juliano de
Carvalho.

Investimento estrangeiro e cadeia de produção

O potencial de
terras raras no Brasil tem atraído investimentos estrangeiros, e a mineração
deve gerar alta arrecadação com impostos. Pela lei, a Compensação Financeira
pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) desses elementos equivale a 2% da
receita bruta da mineradora, sendo 65% desse montante destinado ao Município.

Em Poços de
Caldas, a arrecadação anual pode chegar a R$ 23 milhões, dos quais R$ 15
milhões devem ser repassados ao Município. O valor corresponde a 15 anos de
arrecadação com a mineração tradicional do município focada em bauxita e argila
refratária.

O primeiro
projeto começou a ser montado há 15 anos em Goiás, com capital americano e
britânico e, por um bom tempo, foi o único. Mas nos últimos dois anos mais de
duas dezenas de empresas solicitaram autorização para explorar jazidas.

Desafio na comercialização

Além da
exploração, o Brasil enfrenta o desafio da comercialização. Existe um esforço
para manter os elementos de "terras raras" no país e ajudar a criar
uma cadeia produtiva nacional, algo inédito fora da China, para a transição
energética e desenvolver uma indústria de transformação integrada.

O país asiático
lidera a exploração de "terras raras" desde os anos 1990, quando
tirou a hegemonia dos Estados Unidos, e, atualmente, detém quase 75% da
mineração de "terras raras", 85% do processo de refino e 95% da
produção de ímãs no mundo.

Em outra frente
para este tipo de exploração mineral, o governo pretende criar uma cadeia
completa de produção de ímãs de Neodímio, Ferro e Boro (NdFeB). O plano inclui
desde a extração e beneficiamento mineral até a fabricação e reciclagem, com
aplicações estratégicas nos setores automotivo, de energia renovável e
eletrônico.

Para isso, foi
inaugurado em maio um laboratório em Lagoa Santa (MG), o CIT SENAI ITR, com
capacidade para produzir até 100 toneladas de ímãs por ano para projetos de
pesquisa e inovação em parceria com empresas. No início da operação, a
matéria-prima virá da China, mas o objetivo é que passe a utilizar o minério
brasileiro.

“A proposta é
que o CIT SENAI ITR se torne a maior planta de pesquisa aplicada na produção de
ímãs permanentes na América do Sul e que o projeto MagBras seja o pontapé
inicial para a produção de ímãs de terras raras no Brasil, com todo o ciclo de
produção nacional, desde o processo de concentração e separação de terras raras
até a produção final do ímã permanente, que é o produto de maior valor
agregado”, diz, em nota, a Fiemg.





























































































Fonte: G1




COMENTÁRIOS

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.